BIODIVERSA+ MicroEco
BIODIVERSA+ MicroEco: Caracterizando a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos da microbiota do solo em relação aos diferentes graus de uso da terra ao longo dos anos
De forma geral, os esforços para a conservação de áreas florestais impactadas pela atividade antrópica são direcionados para os organismos que se encontram na superfície do solo. Mas e os que estão abaixo dela?
A microbiota do solo compõe uma comunidade de organismos altamente diversa que desempenha uma série de serviços ecossistêmicos vitais para o equilíbrio ecológico, como a ciclagem de nitrogênio e fósforo, acúmulo de carbono e regulação de microclimas. Em uma pequena amostra de solo coletada em qualquer bioma, podemos detectar o material genético de milhares de espécies de fungos e bactérias desempenhando suas funções ecológicas.
Vivemos hoje em uma época de constante expansão da atividade antrópica e exploração de ambientes naturais. Em decorrência disso, parte significativa da biodiversidade global foi perdida em um curto período de tempo, por meio de grandes queimadas, introdução de espécies invasoras, expansão da pecuária, agricultura, etc. Hoje, com o constante avanço dos estudos envolvendo metagenômica e metabarcoding, sabe-se que há uma urgente mudança de paradigma para ações de conservação ambiental que, de fato, resguardem a biodiversidade global. A pouca compreensão sobre a diversidade e a importância ecológica da microbiota do solo deixa uma grande lacuna na elaboração de políticas de conservação realmente eficientes e integrativas. Esse esforço se torna ainda mais importante em ecossistemas já reconhecidos como particularmente vulneráveis, como as matas de altitude, por exemplo.
Buscando preencher essa lacuna, surge o projeto MicroEco. Juntamente com parceiros de outros cinco países da Europa, como parte do BIODIVERSA+, que fomenta parcerias na conservação da biodiversidade como parte da agenda para 2030. Nesse projeto teremos como foco a microbiota do solo, buscando compreender como esta pode ser afetada pelo uso intensivo da terra, bem como o desempenho dos seus serviços ecossistêmicos. Neste ano, o Brasil será um dos participantes, representado pelo MIND.Funga.
No Parque Nacional de São Joaquim, o MIND irá implementar parcelas em áreas com diferentes graus de uso e manejo florestal: desde áreas mais pristinas com pouco ou nenhum impacto antrópico há muitos anos, até áreas bastante alteradas pela introdução de gado, queimadas e desmatamentos. Nestas parcelas serão feitas amostragens de solo para verificar a composição da comunidade microbiológica, e medições de parâmetros como concentração de carbono, nitrogênio e fósforo para a avaliação da eficiência do serviço ecológico desempenhado por esses microrganismos. Estes dados, então, serão comparados entre as áreas para verificar se a intensidade da ação humana afeta a diversidade da microbiota do solo, e se, consequentemente, os serviços ecossistêmicos desempenhados por ela também sofrem alteração. Além disso, nas mesmas parcelas, serão observadas e coletadas espécies de macrofungos ameaçados de extinção, para posterior caracterização, avaliação do status de conservação e cultura de espécies ameaçadas in vitro.
Ao decorrer da execução do projeto, serão levantados dados extremamente relevantes para a elaboração de futuras políticas e ações de conservação que levem em conta não só a defesa da diversidade presente acima do solo, mas também a que se encontra sob ele, de forma mais integrativa e eficiente.