Sistemática de Hymenochaete Lév.
A bióloga e mestra Marcela Monteiro nos conta um pouco sobre sua trajetória, desafios e próximos passos de pesquisas como a dela.
Por Felipe Gruetzmacher
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O grupo de pesquisa MIND.Funga (UFSC) entrevistou a bióloga e mestra Marcela Monteiro cujo tema da dissertação foi a sistemática de Hymenochaete (gênero de fungo).
Em biologia, especificamente na taxonomia, as espécies são colocadas em grupos numa hierarquia. O gênero é um nível dessa hierarquia. Para entender melhor o gênero, foram realizadas, por exemplo, análises das relações de parentesco entre as espécies a partir de sequências de DNA (análises filogenéticas). Foram estudados também caracteres microscópicos (visíveis com apoio de microscópio) e macroscópicos (visíveis a olho nu).
Os objetivos do diálogo entre o MIND.Funga e a bióloga e mestra Marcela Monteiro foram:
- Reforçar a importância da pesquisa para a biologia;
- Pontuar sobre as motivações pessoais e profissionais do(a) mestrando(a);
- Mencionar como o trabalho do cientista se conecta com esforços de outros setores em prol da conservação ambiental.
PARA MAIS DETALHES
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Há alguma motivação pessoal para estudar os temas do seu mestrado? Como foi a experiência de realizar essas pesquisas e completar o mestrado?
A motivação pessoal esteve em querer conhecer o Reino Fungi e suas peculiaridades. Fiquei cada vez mais curiosa e interessada em me especializar com temáticas sobre a funga brasileira. O grupo de fungos que me propus estudar é muito desafiador, tanto quanto o grupo é detentor de uma beleza intrínseca bastante particular. A experiência do mestrado foi especial e muito intensa.
Qual é a motivação científica (interesse como acadêmica e mestranda) em estudar a taxonomia dos fungos?
A motivação científica e interesse é a de contribuir com a taxonomia dos fungos, fazer parte da construção do conhecimento e subsidiar meios para conservar, preservar e divulgar estas espécies, pois isto só é possível conhecendo a respeito. Assim como, utilizar do conhecimento adquirido e o que venho construindo (pois eu considero o conhecimento um processo inacabado) para aproximar a comunidade em geral da funga, para que os fungos não passem despercebidos, sejam incluídos em todos os níveis de ensino e não sejam negligenciados em meio a explicações que trazem apenas seus malefícios.
A seleção natural é um processo evolutivo, no qual a permanência de caracteres, muitas vezes, pode ser resultado daqueles mais promissores. Assim, com a especiação, novas espécies surgiram (e surgem) e hoje são “encaixadas” em grupos e nomeadas (taxonomia), além de serem entendidas quanto ao seu parentesco com outras espécies (sistemática filogenética). Como sua pesquisa pode ajudar a enriquecer o conhecimento sobre a vida e a biologia?
Minha pesquisa trouxe análises taxonômicas e filogenéticas sobre fungos do gênero Hymenochaete (filo Basidiomycota), o que nos ajuda a entender e nos aproxima da história evolutiva destes fungos degradadores de madeira. Foram realizadas análises filogenéticas com quase todas as espécies conhecidas deste gênero, o que facilita entender principalmente a relação entre os caracteres microscópicos e macroscópicos que as espécies apresentam, além daqueles que são mais informativos e auxiliam na taxonomia.
Minha pesquisa pode ajudar a enriquecer o conhecimento sobre a vida e a biologia, em especial se for continuado, assim como, associado a outros estudos (ex: potenciais biotecnológicos), pois quanto maior o aprofundamento mais conexões de entendimento são possíveis no complexo estudo da vida.
Qual é o impacto da sua pesquisa do mestrado nos estudos biológicos? Você consegue imaginar como esses saberes podem iniciar outros estudos ou quais temas podem ser pesquisados a partir das suas descobertas?
O impacto é o de fornecer dados e informações detalhadas sobre espécies do gênero Hymenochaete, sendo que estas, podem ser utilizadas em estudos de conservação dos fungos e de espécies relacionadas com as plantas, assim como, podem servir de subsídio para divulgação científica da funga do sul do Brasil. E como as informações geradas serão curadas e estarão disponíveis em bancos de dados, futuramente podem servir para outras demandas científicas que possam surgir e/ou inspirados pelos resultados.
Durante o mestrado, acessei fungos que têm uma morfologia difícil de ser distinguida, de ser estabelecida e consequentemente estudada, quanto mais informação de qualidade for gerada a respeito, haverá mais norteamento para as futuras pesquisas com espécies do gênero e talvez até certo encorajamento.
Qual é o ponto mais inédito da sua pesquisa? Fale um pouco da originalidade da sua investigação científica.
Até o momento não havia um trabalho de mestrado dedicado exclusivamente ao estudo de espécies do gênero Hymenochaete para o sul do Brasil e que tivesse análises filogenéticas envolvendo espécies conhecidas (em todo o globo) para todo o gênero, acompanhado de análises microscópicas e macroscópicas sobre as espécies.
Quais foram as etapas do seu trabalho no mestrado, desde o início da formulação das hipóteses até a finalização da dissertação?
Meu mestrado teve como etapas a formulação das perguntas que iriam nortear o mesmo, expedições a campo para coleta de materiais para as análises, assim como, foram realizadas análises de cunho ecológico, ainda que bastante primárias neste viés e de forma bastante intensa foram realizadas as análises microscópicas e de biologia molecular, onde sequências de DNA dos materiais foram analisadas filogeneticamente.
O levantamento de literatura para discussão dos conceitos se manteve ativa por todo o trabalho. Todas as etapas visam contribuir para a reconstrução de uma parte da história do grupo de fungos (gênero) Hymenochaete, buscando entender e delimitar as espécies encontradas.
Quais são os impactos sociais das suas descobertas e esforço em conservar espécies?
O impacto social é o de trazer à luz espécies ainda não conhecidas ou até mesmo pouco estudadas e que consequentemente ainda não possuíam dados que pudessem contribuir em sua conservação, tal como seu nicho e distribuição geográfica bem limitados.
A divulgação da funga estudada também é um ponto importante, pois a conservação é um trabalho feito em conjunto e que precisa da comunidade em geral, dos pesquisadores de diferentes disciplinas (ex: ambientalistas, ecólogos, engenheiros) e de órgão ambientais.
E para contar com ajuda de todos, é preciso aproximar o conhecimento produzido na academia à sociedade em geral.
Edição de Genivaldo Alves-Silva e GT de divulgação MIND.Funga