Aprender para conservar – as descobertas sobre o Reino Fungi!

08/11/2021 11:31

Sistemática de Hymenochaete Lév.

A bióloga e mestra Marcela Monteiro nos conta um pouco sobre sua trajetória, desafios e próximos passos de pesquisas como a dela.

Por Felipe Gruetzmacher

O grupo de pesquisa MIND.Funga (UFSC) entrevistou a bióloga e mestra Marcela Monteiro cujo tema da dissertação foi a sistemática de Hymenochaete (gênero de fungo).
Em biologia, especificamente na taxonomia, as espécies são colocadas em grupos numa hierarquia. O gênero é um nível dessa hierarquia. Para entender melhor o gênero, foram realizadas, por exemplo, análises das relações de parentesco entre as espécies a partir de sequências de DNA (análises filogenéticas). Foram estudados também caracteres microscópicos (visíveis com apoio de microscópio) e macroscópicos (visíveis a olho nu).

Os objetivos do diálogo entre o MIND.Funga e a bióloga e mestra Marcela Monteiro foram:

  • Reforçar a importância da pesquisa para a biologia;
  • Pontuar sobre as motivações pessoais e profissionais do(a) mestrando(a);
  • Mencionar como o trabalho do cientista se conecta com esforços de outros setores em prol da conservação ambiental.

PARA MAIS DETALHES

Há alguma motivação pessoal para estudar os temas do seu mestrado? Como foi a experiência de realizar essas pesquisas e completar o mestrado?

A motivação pessoal esteve em querer conhecer o Reino Fungi e suas peculiaridades. Fiquei cada vez mais curiosa e interessada em me especializar com temáticas sobre a funga brasileira. O grupo de fungos que me propus estudar é muito desafiador, tanto quanto o grupo é detentor de uma beleza intrínseca bastante particular. A experiência do mestrado foi especial e muito intensa.

Qual é a motivação científica (interesse como acadêmica e mestranda) em estudar a taxonomia dos fungos?

A motivação científica e interesse é a de contribuir com a taxonomia dos fungos, fazer parte da construção do conhecimento e subsidiar meios para conservar, preservar e divulgar estas espécies, pois isto só é possível conhecendo a respeito. Assim como, utilizar do conhecimento adquirido e o que venho construindo (pois eu considero o conhecimento um processo inacabado) para aproximar a comunidade em geral da funga, para que os fungos não passem despercebidos, sejam incluídos em todos os níveis de ensino e não sejam negligenciados em meio a explicações que trazem apenas seus malefícios.

A seleção natural é um processo evolutivo, no qual a permanência de caracteres, muitas vezes, pode ser resultado daqueles mais promissores. Assim, com a especiação, novas espécies surgiram (e surgem) e hoje são “encaixadas” em grupos e nomeadas (taxonomia), além de serem entendidas quanto ao seu parentesco com outras espécies (sistemática filogenética). Como sua pesquisa pode ajudar a enriquecer o conhecimento sobre a vida e a biologia?

Minha pesquisa trouxe análises taxonômicas e filogenéticas sobre fungos do gênero Hymenochaete (filo Basidiomycota), o que nos ajuda a entender e nos aproxima da história evolutiva destes fungos degradadores de madeira. Foram realizadas análises filogenéticas com quase todas as espécies conhecidas deste gênero, o que facilita entender principalmente a relação entre os caracteres microscópicos e macroscópicos que as espécies apresentam, além daqueles que são mais informativos e auxiliam na taxonomia.
Minha pesquisa pode ajudar a enriquecer o conhecimento sobre a vida e a biologia, em especial se for continuado, assim como, associado a outros estudos (ex: potenciais biotecnológicos), pois quanto maior o aprofundamento mais conexões de entendimento são possíveis no complexo estudo da vida.

Qual é o impacto da sua pesquisa do mestrado nos estudos biológicos? Você consegue imaginar como esses saberes podem iniciar outros estudos ou quais temas podem ser pesquisados a partir das suas descobertas?

O impacto é o de fornecer dados e informações detalhadas sobre espécies do gênero Hymenochaete, sendo que estas, podem ser utilizadas em estudos de conservação dos fungos e de espécies relacionadas com as plantas, assim como, podem servir de subsídio para divulgação científica da funga do sul do Brasil. E como as informações geradas serão curadas e estarão disponíveis em bancos de dados, futuramente podem servir para outras demandas científicas que possam surgir e/ou inspirados pelos resultados.
Durante o mestrado, acessei fungos que têm uma morfologia difícil de ser distinguida, de ser estabelecida e consequentemente estudada, quanto mais informação de qualidade for gerada a respeito, haverá mais norteamento para as futuras pesquisas com espécies do gênero e talvez até certo encorajamento.

Qual é o ponto mais inédito da sua pesquisa? Fale um pouco da originalidade da sua investigação científica.

Até o momento não havia um trabalho de mestrado dedicado exclusivamente ao estudo de espécies do gênero Hymenochaete para o sul do Brasil e que tivesse análises filogenéticas envolvendo espécies conhecidas (em todo o globo) para todo o gênero, acompanhado de análises microscópicas e macroscópicas sobre as espécies.

Quais foram as etapas do seu trabalho no mestrado, desde o início da formulação das hipóteses até a finalização da dissertação?

Meu mestrado teve como etapas a formulação das perguntas que iriam nortear o mesmo, expedições a campo para coleta de materiais para as análises, assim como, foram realizadas análises de cunho ecológico, ainda que bastante primárias neste viés e de forma bastante intensa foram realizadas as análises microscópicas e de biologia molecular, onde sequências de DNA dos materiais foram analisadas filogeneticamente.
O levantamento de literatura para discussão dos conceitos se manteve ativa por todo o trabalho. Todas as etapas visam contribuir para a reconstrução de uma parte da história do grupo de fungos (gênero) Hymenochaete, buscando entender e delimitar as espécies encontradas.

Quais são os impactos sociais das suas descobertas e esforço em conservar espécies?

O impacto social é o de trazer à luz espécies ainda não conhecidas ou até mesmo pouco estudadas e que consequentemente ainda não possuíam dados que pudessem contribuir em sua conservação, tal como seu nicho e distribuição geográfica bem limitados.
A divulgação da funga estudada também é um ponto importante, pois a conservação é um trabalho feito em conjunto e que precisa da comunidade em geral, dos pesquisadores de diferentes disciplinas (ex: ambientalistas, ecólogos, engenheiros) e de órgão ambientais.
E para contar com ajuda de todos, é preciso aproximar o conhecimento produzido na academia à sociedade em geral.

Edição de Genivaldo Alves-Silva e GT de divulgação MIND.Funga